Pregação do domingo, 11

A VOZ DO SILÊNCIO

Aquele que possui conhecimento refreia as suas palavras, e o homem de entendimento é de espírito sereno. Provérbios 17:27

         A palavra é o barulho da mente, mas o silêncio é o eco da alma descansada. A mente agitada tem uma língua solta, enquanto a alma tranquila fala com o silêncio. O mundo inquieto dos nossos dias tem produzido uma população tagarela, que se compraz no movimento frouxo de uma língua desaparafusada. Falar é o vício entorpecente da maioria das pessoas. Muita gente simplesmente deseja falar, ainda que não tenha nada a dizer; grande parte das conversas são apenas o sopro de palavras ocas e vazias, mas com isto, fica muito fácil definir o perímetro da cabeça. Pelo conteúdo das palavras podemos avaliar a dimensão do conhecimento. Alguém já disse que “conhecemos os pássaros pelo seu canto, e um homem, pelas suas palavras”. Quando falamos, sempre revelamos a nossa identidade. A palavra é a voz do coração, o retrato da mente e a radiografia do caráter. Jesus foi muito enfático com este assunto: Raça de víboras, como podeis falar coisas boas, sendo maus? Porque a boca fala do que o coração está cheio. Mateus 12:34
         J.S. Baxter disse que “uma das primeiras coisas que acontece quando alguém está realmente cheio do Espírito Santo não é falar línguas, mas, sim, aprender a dominar a língua que já tem”. Até o tolo quando se matem calado é tido por sábio. “Dificilmente distinguimos um tolo quando está em silêncio; só podemos julgá-lo adequadamente quando ele está falando”. A grande necessidade que percebemos na vida da igreja contemporânea é o aprendizado espiritual da verdadeira eloquência do silêncio. Não estamos defendendo os votos do mutismo, mas a experiência intíma da quietude e a ciência profunda do silêncio ocasional. Falar palavras de peso com propriedade é tão importante como ficar silencioso nos momentos que a verdadeira sabedoria o requer. Todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavras, esse homem é perfeito e capaz de refrear o próprio corpo. Tiago 3:2. Aprender a controlar a língua e ficar silencioso diante de Deus. Esperar a sua manifestação graciosa, em face dos acontecimentos injustos desse mundo. Eis a mais elevada postura da verdadeira sabedoria. No muito falar não falta transgressão, mas o que modera os lábios é prudente. Provérbios 10:19.
         O silêncio é fundamental quando entramos na presença de Deus. Vivemos hoje um momento de muito ruído quando oramos e adoramos. É verdade que precisamos das palavras para falar com Deus; mas a oração atual, além da abundancia das palavras é perturbada pela intensidade angustiante da voz, e pelo barulho estrepitoso dos pensamentos. Somos uma geração do estrondo: Gritos na garganta, tumulto na alma, zunidos nos pensamentos. A algazarra de dentro é pior do que a zoada de fora. Mas o Senhor está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra. Habacuque 2:20. “Deus ainda se manifesta em ocasiões nas quais encontra alguém suficientemente quieto para ouvir, e, solitário o bastante para prestar atenção”. Não é possível ouvirmos a voz de Deus enquanto não sossegamos na sua presença. O espalhafato do culto moderno tem sido um estorvo para a comunhão do espírito. Se fizermos um grande silêncio no coração, escutaremos Deus falar. Cale-se, toda carne, diante do Senhor, porque ele se levantou da sua santa morada. Zacarias 2:13. A alma precisa de período de profundo silêncio, para poder gozar da intimidade com Deus. Os sussurros divinos não são captados no tropel desta agitação alucinante. Se a igreja continuar a desconsiderar a necessidade de manter-se em silêncio diante de Deus, perderá por completo a capacidade de ouvir a voz de Deus, e se tornará tão autocêntrica que qualquer voz assumirá a orientação do discurso espiritual. O silêncio é o ponto de partida mais seguro para a acústica do timbre celestial. Cala-te diante do Senhor está por perto, porque o Senhor preparou o sacrifício, e santificou os convidados. Sofonias 1:7.

Domínio próprio. Esse é o maior desafio de quem usa as redes sociais. Nãoraro é a rede nos tornarantissociais. Já sofri com isso de expressar-me sem medir consequências e me dar mal. Também já fui injustiçado. Nunca sairá da minha memória o dia em que precisei ir à casa de alguém me desculpar, altas horas, por algo que não fiz. Foi a maior humilhação da minha vida. Mas também já detonei amizades, deliberadamente pelo grilinho whatsapp. Burrice.Mas faz parte das trombadas existenciais. 
Minha família sempre foi dada ao álcool. A cada passo presenciei altos barracos, pois quando a manguaça faz efeito, o sujeito vira uma espécie de “Chapolim” e fala tudo o que dispensa uma fita métrica verbal.  Mas a diferença é que na roda de bêbados, a gente mandava o cara (ou a coroa) ficar quieto e o assunto morria ali, sem espalhar para uma miríade de curiosos dispostos a espalhar as chamas da maledicência. Na internet não tem jeito. Ninguém detém o meliante. Fala-se ao vento o que não se tem coragem de dizer pessoalmente. A internet é um tipo de mesa de baronde se fala qualquer coisa como um bêbado inconsequente. 
Aqui mesmo, para escrever estes 3 parágrafos (já é muito para internet, quase uma tese!), pensei e repensei. tirei algumas coisas que realmente penso, mas não é prudente expressar e só depois publiquei, ainda sabendo que alguns vão entortar o beiço.  
Recentemente li de um autor que “as redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis que antes falavam apenas na mesa do bar sem prejudicar a coletividade. Pensar é livre, publicar o que se pensa deve ser melhor ponderado pelos agentes pensantes”.  Atentemos para a Palavra de Deus que diz: “A língua é um fogo. Ela é um mundo de maldade, ocupa o seu lugar no nosso corpo e espalha o mal em todo o nosso ser. Com o fogo que vem do próprio inferno, ela põe toda a nossa vida em chamas. Tiago 3.6. Se você, como eu, deseja ser perfeito, cuidado com o “bar virtual”. 

         A voz do silêncio também precisa ser mantida diante dos adversários. “O silêncio é uma virtude tão rara em situações em que a sabedoria o rege que é considerado uma virtude quando a loucura o impõe”. A língua desligada na presença dos adversários frequentemente se constitui em matéria prima de toda forma de maledicência. Mais vale um silêncio prudente do que uma verdade pouco caridosa. As palavras devem ser sempre oportunas e a linguagem sã e irrepreensível, para que o adversário se envergonhe não tendo nenhum mal que dizer de nós. Tito 2:8. Mantenha silêncio ou fale aquilo que é melhor do que o silêncio. Muitas vezes o silêncio causa muito mais efeito do que todas as nossas explicações razoáveis. É verdade que não se deve usar o silêncio como omissão ou punição, pois, “pode-se cometer uma injustiça contra outra pessoa tanto por meio do silêncio quanto a calúnia”. Do mesmo modo que iremos prestar contas de toda palavra ociosa que tivermos proferido, seremos responsáveis pelo silêncio negligente que temos assumido.
         Nunca devemos esquecer que o tempo precisa ser bem administrado, para que tenhamos oportunidade de calar com sabedoria e falar com precisão. Mas falar só é bom, quando for melhor do que silenciar. A Bíblia fala que há um tempo de rasgar, e tempo de falar Eclesiastes 3:7. É conveniente observar que o tempo de ficar calado precede o tempo de falar. Quem pensa o que vai falar, normalmente não corre o risco de engolir a seco as palavras impensadas. Nada pode ser mais indigesto, do que ficar entalado com as palavras apimentadas, ditas sem condimento. Quando o silêncio antecede o discurso, com certeza, a coerência determina a fala. Pense tudo o que você falar; mas não se esqueça que é muito vantajoso não falar tudo o que tenha pensado. Como maçãs de ouro em salvas de prata, assim é a palavra dita á seu tempo. Provérbios 25:11. E um antigo provérbio vem ressaltar ainda mais esta ênfase com sua sabedoria: A palavra é de prata e o silêncio é de ouro.
         É sempre muito oportuno desenvolver o aprendizado das disciplinas que promovem o silêncio. Publius Syrius disse: “Varias vezes me arrependi dos meus discursos, nunca do meu silêncio”. Como já vimos acima, há silêncio que é covarde. Entretanto, nós falhamos muito mais pela precipitação das palavras do que pela falta de silêncio. Sendo assim, é urgente que nos matriculemos na escola divina das disciplinas espirituais, capazes de promover o silêncio oportuno para os momentos adequados. Mais do que nunca, somos instigados a buscar os lugares apropriados, onde podemos, pela graça, descarregar as exigências sufocantes do desempenho, na pessoa de Jesus Cristo, para exercitar o descanso silencioso da alma. A igreja dos nossos dias precisa parar para ouvir a voz do silêncio, a fim de poder ouvir a voz de Deus. Nos tempos excitantes e maus do fim é imperioso o silêncio mais silencioso, para se poder ouvir o som da voz divina. Portanto, o que for prudente guardará silêncio naquele tempo, porque o tempo será mau. Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra. Amós 5:13, Salmo 46:10


Pr. Glenio Fonseca/Pr. Fábio Alcantara

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